quinta-feira, 21 de agosto de 2014
O jeito é olhar para o presente
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Gumbrecht: “Precisamos reaprender a nos concentrar no presente” |
Hans Ulrich Gumbrecht, autor de Depois de 1945, fala da relação das sociedades contemporâneas com o tempo, que parece lançá-las para um futuro sombrio
A sociedade contemporânea tem razões para acreditar no futuro? Na minha visão (e de acordo com meu livro) há uma pequena razão para ser otimista no século 21. O ser humano terá de enfrentar desafios sem precedentes: aquecimento global, por exemplo, crescimento demográfico, escassez de recursos. Por outro lado é bem possível que nós estejamos nos concentrando demais nesses aspectos negativos porque a perspectiva que temos do tempo (o cronotopo, como isto é chamado) mudou recentemente, e nos faz acreditar que o futuro tem de ser sombrio. “Progresso”, como indicado na bandeira do Brasil, deixou de ser o principal valor em nossa imaginação para o futuro.
O senhor enxerga alguma saída para esta situação? Não, no sentido de que eu não acredito realmente que nós escolhemos o jeito como olhamos para o tempo, especialmente o futuro; não, no sentido de que certas consequências do desenvolvimento parecem ser irreversíveis (pense novamente sobre aquecimento global). Mas talvez a reação adequada virá ou poderá vir quando pararmos de querer antecipar o futuro do modo hegeliano como costumamos fazer. Todos sabem atualmente que previsões para 50 ou 500 anos à frente não têm valor prático. Então, nós talvez pudéssemos reaprender a nos concentrar no presente, inclusive imediato, no dia de amanhã. É o que o Vale do Silício faz – e talvez seja essa a razão de ser tão bem sucedido. Todos odeiam o Google – mas todos querem ser tão poderosos quanto o Google. Vale do Silício e Google – quase programaticamente – se recusam a fazer qualquer plano de longo prazo.
Fã de futebol, o senhor vê paralelo entre o esporte e o horizonte cultural geral? Nós deveríamos discutir o que significa “horizonte da cultura geral”. Se você quer dizer “cultura” em sentido relativamente estrito então eu responderia que a razão pela qual o futebol atrai fãs (de todos os níveis sociais) é seu potencial de oferecer uma “experiência estética” (no sentido tradicional do conceito). Se você compreende como “cultura” uma situação social mais geral, então podemos sempre descrever relações, por exemplo, entre a presente situação de uma nação como o Brasil e o futebol que está sendo jogado no país. Para lhe dar apenas uma visão, acredito que a atual crise do futebol, brasileiro deve ser (pelo menos em parte) consequência do desenvolvimento da sociedade brasileira durante as últimas três décadas. Diferentemente dos tempos de Pelé ou Garrincha, o futebol não é mais a única possibilidade de crescimento para os mais pobres no Brasil.
Eventos com Gumbrecht
SALÃO DE IDEIAS A crítica literária na era contemporânea. 24 de agosto de 2014 Das 20h às 21h30 Retire seu ingresso com antecedência de 30 minutos
INSTITUTO GOETHE Apresentação do livro Depois de 1945. 22 de agosto. A partir das 19h. Grátis
SESC PINHEIROS Palestra: O pensamento crítico contemporâneo 23 de agosto. A partir das 15h. Grátis