segunda-feira, 29 de julho de 2013
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Foto: Carlos Latuff |
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Capa do livro, que será lançado até a Bienal do Rio |
Vivendo no fogo cruzado, uma das mais de 20 obras que a Editora Unesp lança até a Bienal do Livro do Rio, é um retrato irretocável e chocante da violência da polícia contra as comunidades na cidade maravilhosa. O livro parte de entrevistas com moradores, governo, polícia e especialistas para analisar o cenário e propor novos rumos. Um dos depoimentos é de Lula, quando ele ainda era presidente. O governador Sérgio Cabral e seu secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, também foram entrevistados, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
De Maria Helena Alves e Phillip Evanson, ilustrado com fotos de Carlos Latuff e prefaciado por Paulo Sérgio Pinheiro, o livro expõe e critica a truculência da estratégia de confronto que ainda hoje fundamenta as ações da polícia fluminense. Leia trecho inédito:
“Mesmo quando estivemos fora da escola, fizemos reuniões com o comandante do batalhão da PM, na época era o comandante Ubiratan. Gostava muito dele, mas na verdade ele não podia fazer muito. Eu ia para lá com a esperança de que alguém pudesse fazer alguma coisa por nós, mas ele dizia “tem de continuar, porque é uma situação de enfrentamento”. E ele esteve aqui inclusive para ver se a gente podia voltar para a escola, para ver a reforma que fizeram. E viu as marcas de balas nas paredes. Mas a luta entre a polícia e os marginais continuou e é horrível. No ano passado, ficamos três meses fora da escola porque estivemos com o comandante do 16o Batalhão, que é o mais pertinho da gente, e eles mesmos nos disseram “olha, não voltem, porque a gente não tem condição de dar segurança para vocês”. O próprio comandante do batalhão chegou para mim e perguntou onde se localizava a escola. Porque aqui nós somos uma escola que está no meio de tudo. Do lado de cima tem uma boca de fumo, em frente tem outra, do outro lado também vai ver que tem. E ele queria saber onde se localizava cada uma, onde precisamente ficava a escola. Aí ele viu que o problema era muito grande e os tiros vinham de vários lados. E agora, o que é que acontece? A polícia vem dentro do Caveirão já dando tiros. Primeiro, entravam pela rua em frente à escola atirando. Depois, passaram a entrar pelo portão principal da escola para dentro do pátio com o Caveirão e daqui de dentro davam tiros para os diferentes lados onde estavam os marginais. A coisa ficou insustentável. Porque quando os bandidos estão sozinhos, não atiram na escola, mas quando o poder constituído estabelece um enfrentamento, usando a escola como um escudo, os policiais entram no pátio e depois fazem um tiroteio com duas escolas no meio. São duas escolas, com quase dois mil alunos, o poder constituído faz isso, eles não querem saber se tem criança, se estão em aula, se os professores, as mães estão no meio dos tiros.” (depoimento de uma professora).