Lançamento

Notícia
Notícias
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Ilhas

A obra Ilhas – De Atlântida a Zanzibar, de Steven Roger Fischer, é um estudo profundo das ilhas por meio de um conceito que inclui a geologia (que lhes dá forma), a biologia (que lhes traz vida) e a cultura, por meio da qual adquirem significado. Sempre levando em conta a sinergia entre os três vértices, o autor volta-se principalmente à cultura, tentando aquilatar o significado das ilhas para os seres humanos, cujo desenvolvimento entrelaça-se desde os primórdios a essas formações. Confira a seguir trecho da obra que já está chegando às livrarias.

Tsunamis, um dos "Quatro Cavaleiros das Ilhas"
O preço*

Vulnerabilidade. Essa é, sem dúvida, a constante insular mais penosa. Não é possível sequer ter esperança em adiar o inevitável.
Furacões, vulcões, terremotos e tsunamis – os Quatro Cavaleiros das Ilhas. Foram eles que as formaram originalmente e ainda o fazem. O Quinto cavaleiro acaba de chegar: o aquecimento global, que modifica os padrões climáticos, eleva os níveis do mar e exerce uma nova pressão nas placas da Terra. O aquecimento global provoca a “expansão térmica” na qual a água quente ocupa mais espaço do que a água mais fria. Portanto, os oceanos pesam mais e exercem maior pressão sobre as placas geológicas que se rompem nas margens – exatamente onde a quantidade de ilhas é gigantesca.
Os furacões (ciclones e tufões) sempre aterrorizaram as sociedades insulares, nas quais a arquitetura local, diante disso, optou por construções mais leves e efêmeras em detrimento de habitações permanentes. O furacão atlântico mais destrutivo já registrado ocorreu em 1780 e matou cerca de 22 mil pessoas nas Pequenas Antilhas. Hoje em dia, com o aquecimento global, a frequência e a intensidade desses eventos aumentaram, resultando em mais destruição, sobretudo no Caribe e no oeste do Pacífico. Milhares morreram nas Filipinas quando a tempestade tropical Thelma atingiu a região em 1991. No ano seguinte, o furacão Iniki provocou danos avaliados em 3 bilhões de dólares em Kaua’i, nas Ilhas Havaianas. O furacão Ivan destruiu 90% das casas de Granada em 2004. Em 2008, os furacões Gustav, Hanna e Ike vitimaram cerca de oitocentas pessoas no Haiti. Um terrível preço a pagar pela opção de viver em uma ilha – terror, destruição, morte –, a taxa é antiga e a maioria dos ilhéus já está simplesmente habituada a ela.
Os vulcões são os que mais assustam, mas causam menos danos. Há algumas exceções em que uma ilha inteira pode ser abalada como o “deus em sofrimento” de Keats – que de fato apresentam, porém, estatísticas bastante espetaculares. Pela própria natureza geológica, a maioria das ilhas está localizada em grandes zonas de atividade vulcânica e, assim sendo, podem-se esperar erupções: o Japão, por exemplo, atualmente registra 120 vulcões ativos. Contudo, as erupções são muito menos frequentes quando comparadas à ocorrência de furacões e terremotos. Há mais ou menos 2 mil anos, Plínio, o Velho, registrava: “Durante a Guerra dos Aliados, Terra Santa e Lipari, entre as Ilhas Eólias, perto da Itália, queimaram no meio do oceano durante vários dias, assim como o próprio oceano, até uma comitiva do senado realizar uma cerimônia propiciatória”. Como teria sido bom se uma cerimônia como essa tivesse salvado os indonésios séculos depois. O fato é que em 15 de abril de 1815, o vulcão Tambora, em Sumbawa, a leste de Lombok, no Arquipélago Malaio, ficou em erupção durante cinco dias, expelindo 160 quilômetros cúbicos de matéria, cuspindo cinzas a mais de 900 quilômetros e matando 10 mil pessoas de uma só vez. (Estima-se que mais 66 mil pessoas tenham morrido posteriormente de doenças e fome.) Até um quinto do calor e da luz solar foi perdido no globo; Inglaterra e Escandinávia receberam chuvas incessantemente de maio a outubro; e o nordeste dos EUA sofreu com geadas e neve até o mês de junho.
Não houve verão em 1815.
Notável também foi Krakatoa (Krakatau em indonésio), 1.400 quilômetros a oeste de Sumbawa. Krakatoa, uma pequena ilha montanhosa no Estreito de Sunda, entre Sumatra e Java, durante muitos séculos foi um marco para a navegação. O vulcão ali localizado entrou em erupção nos anos 1600, mas a nova vegetação que o recobriu mascarou todas as provas do ocorrido e todos acreditavam estar o vulcão extinto. Durante os três meses que precederam 26 de agosto de 1883, habitantes de ilhas vizinhas sentiram estrondos e demonstravam preocupação diante de focos de fumaça. De repente, às 13h desse dia, ruidosas explosões irromperam o ar, aumentando em intensidade. Um capitão inglês que navegava a 40 quilômetros de distância dali escreveu: “Os tímpanos de mais da metade da minha tripulação estouraram”. Uma hora depois, uma nuvem negra gigantesca encobriu o estreito. À medida que o mundo escurecia, uma série de tsunamis atingia as vilas costeiras de Java e Sumatra. Durante a noite toda, o céu oscilava entre “um segundo de breu intenso e no próximo uma labareda”. Às 10h da manhã de 27 de agosto de 1883, Krakatoa estava incandescente, cuspindo fogo, rochas e cinzas para o céu. Uma sequência de tsunamis assustadores – alguns com ondas alcançando 40 metros de altura – aniquilou toda a vida nas ilhas adjacentes. A explosão repercutiu até a Ilha Rodrigues, a leste de Maurício, a mais de 4.500 quilômetros de distância. Cinzas caíram sobre navios que estavam a 6 mil quilômetros de distância. Durante um dia inteiro, o Estreito de Sunda pairou em negro esquecimento; 165 vilarejos desapareceram da face da terra.
Cerca de 36.400 pessoas morreram, a maioria por causa dos tsunamis. Restou apenas um terço de Krakatoa. Ao norte, novas ilhas emergiram. A erupção lançou uma nuvem maciça de gás e cinza na alta atmosfera, avermelhando pores do sol no mundo inteiro e fazendo a temperatura da Terra cair mais de um grau. Posteriormente, Krakatoa ressurgiu. Em 1927, tripulantes de um barco de pesca reportaram terem visto fumaça saindo da cratera e dois anos depois Anak Krakatau (Filha de Krakatoa) anunciava a sua presença no Estreito de Sunda. Em 1953, as erupções aumentaram o cone para 60 metros acima do nível do mar. Desde os anos 1950, Anak Krakatau cresce 13 centímetros por semana e recentes erupções causam cada vez mais ansiedade na região.

*Trecho extraído das páginas 391 a 394.