Prêmio Jabuti 2014

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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Tradução de poesia chinesa fica em segundo lugar 


Pintura de Wang Wei (701-761)

Segundo lugar na categoria tradução desta edição do Jabuti, cuja premiação acontece hoje, Antologia da poesia clássica chinesa, traduzida por Ricardo Portugal e Tan Xiao, é possivelmente a coletânea mais abrangente publicada em português da Dinastia Tang (618-907), a “idade de ouro” da literatura chinesa clássica. Bilíngue, inclui mais de 30 autores, inclusive representantes da vertente feminina.

Leia, abaixo,  poemas dos principais autores da antologia. 

Zombando de Du Fu

Do arroz cozido”, chamam esta colina.
Chapéu de palha enorme ao sol a pino,
Du Fu, ali rever, mofino e magro:
poesia é ofício desde sempre amargo.” (Libai)

A vila à beira do rio

Um claro rio se dobra em torno à vila e corre,
longo o verão – rio, vila, tudo maravilha.
Vão livremente e vêm aos pares andorinhas,
chegam-se às águas, perto, ajuntam-se gaivotas. 

A esposa um tabuleiro de xadrez recorta,
o jovem filho dobra agulhas, faz anzóis.
Alguém doente busca as plantas para a cura,
humilde corpo, nada além disso procura. (Du fu)

Canção da cidade Wei 

A chuva da manhã sobre a poeira leve,     
no albergue ao pátio o verde intenso dos salgueiros;
então, senhor, toma outro copo deste vinho:
a oeste, além do Passo Yang, não tens amigos. (Wang Wei)

No lago 

dois monges da montanha frente a frente
jogam xadrez entre os bambus a sombra
entre os bambus frescor ninguém se vê 
por vezes ouve-se uma peça move (Bai Juyi)

Partindo e despedindo-se de Wang Wei

Quieto e sozinho o que esperar da vida 
dias manhãs voltar de mãos vazias
Alhures busque-se a fragrante grama
pois vai-se um velho amigo lamentando
Poderes há no mundo e nos eludem
um verdadeiro amigo é mais que raro
Melhor é ser somente o solitário
fechar a porta ao antigo refúgio (Meng Haoran)

Frio do norte

um lado é o negro brilho a sombra e três são púrpura
o gelo encobre o rio mortos dragões e peixes 
rompe-se em três a casca e quebra-se a madeira
passam carros de peso sobre as águas duras
as flores da geada à grama como prata
facas não cortariam o céu denso à neblina
ondas marinhas sobem chocam-se em rugido
montanhas silenciam ao arco-íris jade (Li He)

Bebendo junto às peônias em flor

Perante as flores hoje embriagar-se,
despreocupar-se a nem contar os cálices.
Temer somente das flores ouvir:
“não para o velho aquele, o nosso abrir”. (Liu Yuxi)

Compartilhando um luto

Lembro a elegância como um jade, a pele em pêssego
salgueiros tímidos ao vento, as sobrancelhas
Encerra a gruta do dragão aquela pérola
À base em fênix, só, na alcova resta o espelho
a repetir o sonho à noite, em chuva e névoa
não mais que a dor insuportável, sem parelho
A leste e oeste, agudas, fecham-se montanhas
ao sol, à lua: nunca mais uma esperança (Yu Xuanji)

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