terça-feira, 13 de agosto de 2013
Bienal do Rio
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Marina Colasanti com a escritora, em 1963 |
Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’Anna esboçam em Com Clarice, que a Editora Unesp lança até a Bienal do Rio, um retrato sensível da amiga Clarice Lispector. Por meio de ensaios e crônicas, alguns inéditos, eles falam da escritora e de sua obra ou tomam palavras dela para expressar outros sentimentos e ideias. São impressões reunidas desde o começo dos anos 1960. De uma entrevista que o casal fez com a escritora em 1976, transcrita no livro, emergem facetas variadas da autora de A Hora da estrela e A paixão segundo GH. “Não escrevo como catarse, para desabafar. Eu nunca desabafei num livro. [...] Eu quero a coisa em si”, diz ela, por exemplo, na histórica entrevista.
Trecho do livro:
“Eu não sabia que Clarice pintava. Ou talvez tenha sabido em algum momento e esquecido em outro. Se soube, foi porém depois de sua morte, porque nunca falei com ela de cores. Quando li agora, no jornal, pareceu‑me uma coisa nova. Acho que tive uma ponta de ciúmes. Como e que Clarice pintava e nunca me disse nada? A mim, que pinto e teria gostado tanto dessa cumplicidade, de entrar com ela em terreno outro, de acompanhá-la na tal caverna que ela dizia ter pintado, caverna de estalactites e um cavalo louro. Mas como saber aonde Clarice nos levaria – e quando – ela tão secreta e ao mesmo tempo exposta, tão cheia de esquinas alem das quais tudo podia acontecer? E por que me entregaria esse presente, se talvez nem soubesse que eu teria gostado? Não, nunca me falou da pintura que andava inventando para si, nem naquela entrevista que fizemos com ela para o MIS, Affonso e eu, naquele dia em que ela chegou, bonita e tão alegre no seu casaco marrom – acho que era de camurça – embora não estivesse nada frio. (Marina Colasanti, em Com Clarice).”