A correspondência entre Walter Benjamin e Theodor Adorno, que a Editora Unesp publica, em sua totalidade, pela primeira vez em português, insere-se entre os textos mais importantes produzidos durante o período de maior barbárie do século 20 – os anos de ascensão do nazismo.
Fundamental para a compreensão do trabalho desses dois pensadores seminais, as cartas revelam a amizade, a parceria e a afinidade intelectual ímpar que eles cultivaram por quase 20 anos.
Thedor W. Adorno (1903-1969) foi um filósofo alemão e um dos principais teóricos da cultura. Fez parte da corrente conhecida como Escola de Frankfurt, ao lado de Max Horkheimer, Walter Benjamin e Jürgen Habermas.
Um dos grandes pensadores europeus de sua época se apresenta, neste livro, em uma atividade que poucos dos seus pares aceitariam. Em fase avançada da carreira, amplamente reconhecido, Adorno não hesita em ministrar curso introdutório à Sociologia para um público numeroso e sem preparo prévio. Logo em seguida, a expressão "fase avançada" serviria também para caracterizar sua vida, embora ninguém pudesse prevê-lo naquele momento de 1968, quando tinha 65 anos de idade. Morreria no ano seguinte, de enfarte, acossado por todos os lados - não só pela direita conservadora, como era de hábito - e após amargos embates com os militantes dos movimentos estudantis, que resultaram no cancelamento do curso de Sociologia preparado para 1969. Em uma das últimas aulas do curso de 1968 ele presta emocionada homenagem a colega recém-falecido, na qual enfatiza a tristeza, o desalento e as dúvidas do amigo sobre o acerto do retorno à Alemanha após a emigração, para comentar que ele próprio havia compartilhado esses sentimentos. Impossível não enxergar nessas palavras algo de premonitório.
A captatio benevolentiae do autor, que fala da própria hesitação em aceitar a proposta de publicar um livro, está gasta devido ao seu persistente abuso. Na maioria das vezes, ela pretende apenas isentar o autor de sua responsabilidade. No caso deste livro sobre Berg, contudo, ela não apenas exprime corretamente as circunstâncias, mas é imprescindível para sua explicação
"As estrelas descem à Terra é um texto sui generis no conjunto da obra de Theodor W. Adorno: por um lado, tem uma conexão direta com o núcleo duro do pensamento do filósofo, já que aborda temas como a interpenetração entre o racional e o irracional, o processo de dominação característico do capitalismo tardio, a cultura de massas etc. Por outro, trata-se de uma obra em que as idéias propriamente filosóficas de Adorno não ressaltam tão claramente como em outros de seus livros mais conhecidos. No que concerne ao background filosófico de As estrelas descem à Terra, a vinculação mais evidente é mesmo com a Dialética do esclarecimento, obra em que Horkheimer e Adorno apontam para o fato de que o esclarecimento, longe de se limitar a um movimento intelectual europeu do século XVIII, o Iluminismo,,tem suas raízes muito mais profundas na civilização ocidental, remontando à astúcia de Ulisses na epopéia homérica, no sentido de se valer de todos os meios que lhe eram disponíveis para alcançar o fim de retornar à ilha de Ítaca, onde, na qualidade de rei, era senhor de terras e rebanhos. Com isso querem os autores dizer que, adjacente a todo modelo de racionalidade que erige em fim último não a felicidade, mas objetos que, na verdade, seriam apenas meios de autoconservação da vida humana, reside uma indelével sombra da mais crassa irracionalidade."
Há livros que antes de serem lidos nos parecem supérfluos e que, uma vez lidos, mostram-se indispensáveis. Ao lê-los, descobrimos uma riqueza insuspeitada e uma importância para o desenvolvimento do pensamento do autor que explicam muitas coisas que nos deixavam talvez desconfiados. É o caso do volume que aqui apresentamos. Estruturalmente, está composto por três textos de diferentes tamanhos: a tese de habilitação ao ensino superior na Universidade de Frankfurt am Main, elaborada nos anos 29 e 30, depois retrabalhada e publicada no início de 1933, com sete longos e densos capítulos, com os parágrafos longos que caracterizam o estilo predominante de Adorno, numa análise globalizante da obra do pensador de Copenhague, e em seguida dois anexos: um, de 1940, composto como conferência para teólogos e filósofos do círculo americano de Paul Tillich; e outro já da última década de vida de Adorno, a partir de um discurso comemorativo ao sesquicentenário do nascimento de Kierkegaard. Como se pode imaginar, também este último anexo, datado de 1963, busca resumidamente uma interpretação da obra como um todo.
A relação entre Adorno e a psicanálise sempre foi um eixo maior de sua experiência intelectual. Sua perspectiva materialista e suas estratégias de crítica social são incompreensíveis se não levarmos em conta o que Freud lhe revelou a respeito da gênese do Eu e da estrutura pulsional da vida social. Neste volume, o leitor encontrará os textos de Adorno dedicados à construção de uma crítica social psicanaliticamente orientada. Em vários momentos, um modelo de crítica da razão como análise de patologias sociais se apresenta para permitir a compreensão mais precisa de fenômenos como o fascismo, a personalidade autoritária e os impactos psíquicos do capitalismo.