UMA HISTÓRIA DO TRÁFICO DE ESCRAVOS ENTRE A ÁFRICA E O RIO DE JANEIRO (SÉCULOS XVIII E XIX)
Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa de 1993, esta obra, de Manolo Florentino, está entre as que mais contribuíram para a significativa revisão pela qual passou o tema tráfico de escravos a partir dos anos 1980. Ao trazer àluz dados e formulações negligenciados ainda hoje por clássicos da historiografia brasileira, o autor desvenda a estrutura política, social e econômica que, tanto no Brasil quanto na África, possibilitou ao país tornar-se o maior importador de escravos das Américas entre os séculos 16 e 19, período em que recebeu cerca de 10 milhões de negros. Donos de negócio da tal monta, os mercadores de escravos ascenderam ao topo da pirâmide social, de onde, nos séculos 18 e 19, influenciaram de modo decisivo o Estado brasileiro.
Ao questionar as explicações clássicas para a enorme migração compulsória que por mais de três séculos uniu a África e o Brasil, o autor parte para umaleitura cuidadosa de documentos históricos, submetendo listagens de navios negreiros, inventários post-mortem e registros imobiliários a uma aplicada metodologia estatística para vincular, de forma definitiva, o comércio de almas à demanda crescente de mão-de-obra da economia fluminense.
Florentino prova que nenhuma outra região americana esteve tão ligada à África por meio do tráfico como o Brasil – a segunda maior área receptora de escravos negros, as colônias britânicas no Caribe,recebeupouco menos de metade da quantidade de africanos que desembarcou no Brasil.E demonstra que o vigoroso comércio atlântico de almas era o principal instrumento de viabilização da reprodução física dos escravos no Brasil, a qual era necessariamente precedida pela produção social do cativo na África. Naquele continente, explica, o processo era marcado por duas dimensões, uma delas social – a cristalização da hierarquia e das relações de poder – e outra econômica stricto sensu. Esta última relacionava-se à forma pela qual se dava a produção do cativo (a violência), que possibilitava o baixo custo do fluxo de mão de obra.
Desse último aspecto derivava, na esfera da demanda brasileira, a disseminação tanto da propriedade escrava quanto do exercício de uma lógica empresarial em princípio bastante reificadora. “O tráfico atlântico passa a ser afro-americano por definição, não porque signifique uma migração forçada de africanos para a América, mas sim e principalmente porque desempenha funções estruturais nos dois continentes”, escreve Florentino.
Autor deste livro.
Corsi retorna à época do Estado Novo a fim de compreender a relação entre as diretrizes da política externa e a implementação de um projeto nacional. As vantagens políticas e econômicas alcançadas por Getúlio Vargas, na esfera das relações internacionais, aparecem como peça fundamental na costura da unidade nacional e da viabilização do processo de industrialização. Inserção mundial e consolidação nacional são assim avaliadas com base em uma óptica renovada.
Este estudo traça o retrato do movimento operário de Santos, na virada do século, quando se transformou em importante porto e cidade multirracial e multicultural. Trata-se de uma importante contribuição para o melhor conhecimento da história social e política do período.
Esta obra de Éttore Finazzi-Agrò convida o leitor a um voo panorâmico sobre as heranças históricas e culturais do Brasil. Mas o autor não tem como objetivo construir uma síntese cronológica da história da produção artística e cultural do país. O que ele oferece, ao contrário, é uma visão composta de fragmentos dispersos no espaço-tempo.
Este estudo revela a importância de pregadores imperiais como gênese de uma intelectualidade brasileira, no início do século XIX. É salientado o trabalho dos freis Francisco de São Carlos, Sampaio, Sousa Caldas e Januário da Cunha Barboza, e, sobretudo, Francisco do Monte Alverne, figura ímpar na construção de uma retórica nacional. Este trabalho demonstra o papel fundamental da oratória sagrada no Brasil oitocentista, num tempo em que o analfabetismo era imenso, e a palavra falada, o principal mote às discussões locais. A Corte havia chegado recentemente, o sistema administrativo estava ainda em formação, e as igrejas constituíam os poucos espaços que reuniam a população. Entre estas, teve particular importância a Capela Real onde, aos domingos, e ram pregados os sermões - a que não é alheio o papel de D. João VI pelo apreço que tinha pela oratória religiosa. A sermonística, ou seja, a arte de redigir e pregar sermões, é o objeto deste livro onde se verifica a sua importância como elemento preponderante na prática articuladora de ideias e, mais especificamente, de um tema - a pátria. Desse modo, a par de um fervor religioso, forma-se também um sentido de identidade nacional, que vem a originar a construção de um discurso brasileiro.
A admiração pela França constituiu um traço marcante das elites brasileiras desde os primórdios da independência, momento em que se tornou urgente dotar o jovem país de uma identidade capaz de lhe assegurar feições próprias. Sob a batuta de um diminuto grupo, concebeu-se e projetou-se uma representação da nação que não pode ser dissociada dos valores e da auto-imagem de seus propugnadores.