CONCEPÇÕES DE JUSTIÇA E RESISTÊNCIA NAS REPÚBLICAS
As experiências de lutas camponesas narradas nesta obra contemplam a diversidade do espaço, no que tange aos tipos de lutas, as mediações políticas e as práticas produtivas e culturais dos camponeses brasileiros. Os textos selecionados são sucessões de experiências e partes de um projeto: o de produzir uma resposta à amnésia social que consagrou - como memória nacional - a noção de passividade do povo brasileiro. Se a memória é um fenômeno socialmente construído, isso nos permite também afirmar que a memória e a identidade "são valores disputados em conflitos sociais". Os autores aqui reunidos traçaram, a nosso ver, os primeiros passos para deslindarmos o sentimento de injustiça que une os camponeses em sua luta pela terra no país.
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Formas de resistência camponesa. Visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história vol. 1, Concepções de justiça reúne quinze capítulos que se propuseram a um único e importante objetivo: contribuir para a realização de um campo de conhecimento que se convencionou chamar de história social do campesinato. Os textos inseridos neste volume são os resultados de pesquisas produzidas em várias universidades brasileiras e em distintas regiões do país e foram calcados em estudos empíricos e em análises de fontes primárias capazes de sustentar as hipóteses defendidas por seus autores. Os camponeses são mais conhecidos na historiografia brasileira pelas grandes rebeliões contra os latifundiários do que por sua formação histórica. Os capítulos aqui congregados falam-nos de experiências de lutas, da organização de movimentos rurais ocorridos em vários quinhões do que hoje chamamos de Brasil. São partes de uma história a ser contada, pois muitos dos embates de outrora foram esquecidos nos porões dos arquivos locais, onde estão guardados fragmentos de um passado (às vezes recente) de querelas de lavradores e camponeses contra pretensos proprietários, em suas tentativas de assegurarem seu acesso a terra.
Este livro tem como ponto de partida o período que se inicia com a redemocratização do país em 1945, após oito anos de regime ditatorial, configurados no chamado Estado Novo. No presente volume, apresentamos alguns artigos que permitem dar um panorama, ainda que parcial, do que foram as lutas camponesas desde o final da década de 1940 até meados dos anos 80. Os textos fornecem um rico panorama das lutas no campo e suas nuances, fazendo desfilar um conjunto heterogêneo de personagens, que mostram quão diverso é o leque de configurações, variáveis no tempo e no espaço, que a categoria campesinato abrange.
O objetivo deste livro é mostrar que as lutas camponesas são sinais da resistência do campesinato contra a desterritorialização. Compreendendo o território como espaço de realização da vida, em suas diferentes dimensões (econômicas, sociais, culturais, políticas etc), entende-se melhor não só a existência de diferentes formas que o campesinato assume, como também a diversidade de lutas que se verificam no campo, com o sentido de garantir a existência dessa categoria social num contexto em que ocorre intenso processo de expropriação. Para resistir a esse processo, o campesinato procura se reterritorializar de diversas formas, que se modificam, avançam ou refluem conforme as conjunturas econômicas, sociais e políticas.
As mais diversas discussões ideológicas, em última análise, polarizam-se em torno de dois grupos: aqueles que acreditam em algum argumento com fervorosa convicção e os céticos, que apresentam poderosa resistência a paradigmas já estabelecidos. Este livro estuda as forças cognitivas, retóricas, psicológicas, sociais e institucionais associadas a essas duas posições nos mais diversos debates intelectuais contemporâneos. Acima de tudo, a obra estimula a capacidade do diálogo e acelera contra toda forma de sectarismo.
As ciências sociais no Brasil chegaram pelas influências alemãs em Tobias Barreto e inglesas em Sílvio Romero, além da filosofia e sociologia do direito. Tobias antecipou-se aos neokantistas enquanto Sílvio preferiu Spencer, ambos contra o positivismo de Comte. Estas idéias da Escola do Recife estão nas origens dos estudos de sociologia, antropologia e política no Brasil. Elas vêm até à geração de Gilberto Freyre e discípulos.