ARTISTAS DA REVOLUÇÃO, DO CPC À ERA DA TV
Aproximar-se do “povo” era uma das aspirações mais caras tanto dos militantes de esquerda quanto dos artistas e intelectuais brasileiros durante a ditadura civil-militar de 1964-1985. O novo país que eles almejavam construir, necessariamente, brotaria das raízes nacionais. O que os inspirou nessa busca, que refluiu após o triunfo da lógica do mercado global, nos anos 1990? Que herança teria deixado?
Nesta obra, aqui apresentada em segunda edição, revista e ampliada, Marcelo Ridenti analisa o tema em seis capítulos.No primeiro, expõe aspectos do romantismo revolucionário nos meios intelectualizados nos anos 1960 e início dos 1970, marcados pela utopia da integração do intelectual com o homem simples do povo, que supostamente não contaminado pelo capitalismo, daria vida a um projeto alternativo de sociedade desenvolvida.
No segundo capítulo, o autor aborda a inserção no meio artístico do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cuja linha política, segundo ele, nada teve de romântica, ao contrário de seu setor cultural, marcado por propostas difusas de valorização de “autênticas raízes brasileiras”.
Ridenti enfoca, então, no terceiro capítulo, os grupos de esquerda, pós-1964, como as dissidências armadas do PCB e os trotskistas, vinculando sua atuação à ebulição cultural do período e enfatizando a participação de artistas em suas fileiras. Para ele, aqueles grupos tinham pontos de vista modernizantes e só podem ser chamados de românticos na medida em que “a alternativa de modernização passava por certa visão nostálgica do povo brasileiro”.
Benjamim (1995), de Chico Buarque, é o assunto do quarto capítulo. Ridenti propõe uma leitura do livro que leve a um balanço da dimensão sociopolítica no conjuntodas obras do artista produzidas entre os anos 1960 e os 1990, período que ele revisitano romance. Segundo Ridenti, Benjamim “recoloca e atualiza o lirismo nostálgico e a crítica social, paralelamente ao esvaziamento da variante utópica da obra de ChicoBuarque, expressando a perplexidade da intelectualidade de esquerda às portasdo século XXI.”
O quinto capítulo trata da brasilidade de Caetano Veloso, representante máximo do Tropicalismo, movimento que, de acordo com Ridenti, ao contrário de representar ruptura radical com a cultura política forjada naqueles anos, é um de seus frutos diferenciados.
Por fim, o autor procura apontar o refluxo e alguns desdobramentos daquele empenho revolucionário e a recuperação, ainda que parcial, das quase esquecidas ideias de povo, Estado-nação e raízes culturais, como reação ao ímpeto transnacionalizante neoliberal.
Autor de 4 livros disponíveis em nosso catálogo.
Este livro introduz o leitor nos anos 1960 e 1970, oferecendo-lhe uma visão abrangente, mas seletiva, dos fatos sobre os quais incide a análise histórica e sociológica. Análise séria e aprofundada, porém vazada em linguagem acessível, sem rebuscamentos dispensáveis. Aqueles anos de virada já suscitaram uma literatura numerosa de depoimentos pessoais, mas os trabalhos de pesquisa analítica ainda são escassos. Houve mesmo um declínio de interesse por aqueles anos malditos, na medida em que ganhou ímpeto, no país, o processo de finalização da ditadura militar e de reorganização democrática das instituições do Estado e da vida partidária. Generalizou-se o ponto de vista segundo o qual a esquerda, que se empenhou na luta armada, cometeu erros primários, a respeito dos quais não valia a pena perder tempo. Mas semelhante ponto de vista se diluiu e os anos rebeldes despertaram atração em época recente, associados à vivência das enormes dificuldades econômicas e das complicações políticas, sobre as quais não deixam de influir os acontecimentos internacionais relacionados com o desmoronamento dos regimes comunistas no Leste Europeu. Sendo assim, a publicação deste livro salienta-se por trazer respostas ou esclarecimentos às indagações das velhas e, sobretudo, das novas gerações politizadas ou despertadas para a atuação política.
O título deste livro tem um caráter provocativo e se refere a aspectos de uma vertente específica de construção da brasilidade, aquela identificada com ideias, partidos e movimentos de esquerda - e presente também de modo expressivo em obras e movimentos artísticos. Trata-se de uma aposta nas possibilidades da revolução brasileira, nacional-democrática ou socialista, que permitiria realizar as potencialidades de um povo e de uma nação. Essa brasilidade revolucionária, como criação coletiva, viria a definir-se com mais clareza a partir do final dos anos 1950, ganhando esplendor na década seguinte, seguido de seu declínio. Ela envolveria o compartilhamento de ideias e sentimentos de que estava em andamento uma revolução, em cujo devir artistas e intelectuais teriam um papel expressivo pela necessidade de conhecer o Brasil e de aproximar-se de seu povo.
Marcelo Ridenti estuda a idéia de revolução que se cristalizou a partir da segunda metade dos anos 60. Utilizando uma multiplicidade de perspectivas, seu trabalho visa esclarecer a vida e a morte dos projetos revolucionários. Para tanto, os pontos abordados são o movimento estudantil, a participação das mulheres, dos trabalhadores e ex-militares subalternos, o sonho da guerrilha camponesa e o pesadelo das ações armadas urbanas.
Dentre os muitos benefícios que nos trouxe a transferência da corte portuguesa para o Brasil, podemos destacar duas medidas que parecem da maior importância: a abertura dos portos e a instalação da Impressão Régia, duas janelas que abriram o Brasil para o mundo, do ponto de vista político e cultural. A primeira decisão foi de efeito imediato; a segunda, de resultado um pouco mais tardio, pois a Impressão Régia visou, inicialmente, apenas à publicação dos atos oficiais, mas em curto espaço de tempo passou a publicar obras que abrangeram quase todos os campos do conhecimento. Visto no contexto em que a Impressão Régia funcionou, seu desempenho foi excepcional e abriu caminho para o desenvolvimento cultural brasileiro, pois proporcionou o surgimento de um número crescente de editores no século XIX.
A comunicação institucional parece sem rumo. Enquanto a tecnologia aperta ainda mais os vínculos entre cultura e comunicação, seus processos continuam privilegiando meramente a transferência de informações, indiferentes ao tempo e ao espaço de apropriação dos destinatários.